Como vai você? ☆
Recentemente me deparei com uma situação pessoal que me lembrou do livro do Robson Pinheiro citado no título, cheguei a buscar por ele para comprar, mas no momento, não há possibilidade, então me recordei que minha avó tem o livro e peguei emprestado com ela.
Como dito na capa, é uma visão espírita sobre a magia e a feitiçaria.
O livro é estruturado com perguntas e respostas, além de diversas notas de rodapé, sendo separado em capítulos de acordo com o tema que será abordado. A diagramação me faz acreditar que metade do livro é feito por notas de rodapé, há uma margem excessivamente grande na borda externa, com uma coluna central estranhamente estreita e o corpo do texto está muito próximo da lombada, nada que impeça a leitura, mas me parece que foi propositalmente mal diagramado para ocupar o maior números de folhas possível, deixando o livro com aspecto robusto.
Estudiosos da magia num geral tendem a ter noções básicas de origem e dogmas do Espiritismo de Allan Kardec, sabemos que suas bases se encontram com uma visão tecnicamente mais ampla do evangelho segundo Jesus Cristo, abordando as manifestações e vivências do além vida, ou da espiritualidade, como você preferir. Assim sendo, há presença dos dogmas cristãos, obviamente, trazendo compreensões que, para magistas, nem sempre são tão precisas devido ao viés de suas produções.
Assim como Oberon Zeil-Ravenhart, feiticeiro estadunidense autor do livro "Grimório para Aprendiz de Feiticeiro", já mencionado aqui no blog, há a diferenciação das magias entre magia negra, ou baixa magia, e a magia branca. Assim como Oberon, a obra psicografada por Robson Pinheiro coloca feiticeiros, bruxos e magos num balaio específico. Para Oberon, em resumo simplório, feiticeiros possuem conhecimentos mais elevados que magos e bruxas; já para Pai João de Aruanda no livro de Robson, todos estes praticam a magia de forma obscena e negativa.
Em todas as vezes que a feitiçaria foi citada, veio com um viés negativo, o uso de instrumentos mágicos também, assim como apresentação de goétia como uma prática danosa ao espírito, ou como práticas de conhecimento pouco elevado espiritualmente.
Já os magos foram diferenciados como negros e brancos, praticantes de magia negra e branca respectivamente. São descritos como seres etéreos que tiveram oportunidade de viver em Atlântis e Lemúria, antigos paraísos perdidos de profunda evolução espiritual no início da criação, mas que se desvirtuaram por usarem de seu conhecimento e grande poder da Vontade para prejudicar terceiros e manipular demais seres astrais. Magos brancos e negros possuem estas capacidades, a diferença está no objetivo de suas práticas.
A concepção de magia branca e magia negra está presente há séculos no imaginário popular, eu mesma já me descrevi como bruxa branca afim de não cair no estigma de que sacrifico animais e bebês em rituais de comunhão carnal com o Demônio, hoje não vejo mais tal necessidade, pois não trabalho com demônios em minhas práticas e não os vejo como seres dos quais devo manter distância, só não faz parte das energias que busco me aproximar.
Confesso que fazer a leitura de material essencialmente cristão é dificultoso e me inunda de ressalvas e caretas. Considerando o que é demonstrado na psicografia de "Magos Negros" e observando minhas práticas, aquele que se basta somente nesta visão de magia, me considerará uma ameaça digna de expurgo.
Considerando os pontos positivos vistos pelo meu viés, é pertinente citar que os conhecimentos energéticos adquiridos nos estudos de Chakras, propriedades energéticas de plantas (instruídas de forma mais precisa no livro de Oberon, supracitado), regências planetárias e fases da Lua são eficientes no combate às "forças das trevas", mas, esse tipo de conclusão é bem óbvia para quem já estuda a magia há algum tempo.
É útil a especiação de espíritos que habitam o tal astral negativo, de baixíssimas vibrações, assim como a descrição do que se compõe a Lama Astral e as Formas Pensamento. Já os Elementais de apresentação dúbia. primordialmente são mostrados como seres de baixíssima iluminação espiritual, suscetíveis a Vontade de magos e outros espíritos com maior consciência de si e suas capacidades espirituais. Por um lado tendo a concordar, devido a simplicidade existencial e comumente descrita como pura de tais seres, mas sinto que lhes é roubado o livre arbítrio, pois fadas e outros elementais possuem a capacidade de decidir se querem ou não trabalhar com a bruxa, feiticeira, ou maga em suas práticas mágicas, levando à compreensão de que Magos Negros são realmente dotados de uma Vontade poderosa, podendo subjulgar todos os seres espirituais que desejar, com exceção dos dragões, estes estão acima deles, mas é uma citação breve sem qualquer aprofundamento no livro.
Ao mesmo tempo que Magos Negros são descritos como seres de grande Vontade, assim como a capacidade de se manterem ocultos pelo véu das energias negativas extremamente densas, o livro cita que pouquíssimas pessoas podem ser alvo deles, por considerarem que você deve ser um espirito com um grandioso propósito para que receba alguma atenção. Consideram também que há alguns guias espirituais que possuem maiores conhecimentos e vivências capazes de contrapor com eficiência as manipulações dos Magos Negros, o que, de certo modo, alivia o leitor menos experiente.
Notei ao longo de minha leitura que algumas perguntas são remodeladas, gerando respostas parecidas, onde parece querer tirar as dúvidas de estudiosos iniciantes, é compreensível e realmente importante, mas, se você possui conhecimentos prévios, notará um repeteco.
Em suma, para aqueles que gostam de compreender e conhecer a visão de dogmas diversos, é um bom livro. Possui algum material de estudo e, até certo ponto, estimula a pesquisa de outros tópicos, como o trânsito energético e os elementais.
Um ponto que me deixa desgostosa em certas doutrinas, a Espírita inclusa, é a forma como parece haver uma mescla de espiritualidade good vibes, com a imputação de incapacidade energética de seres humanos e, para leitores mais atentos, a caracterização de religiões africanas e indígenas como práticas primitivas.
Quando me refiro à espiritualidade good vibes, me refiro à ideia de que, se você não está enfraquecido emocionalmente, ou abalado pelos problemas mundanos, dificilmente será influenciado por energias indesejáveis em sua vida. Mais adiante no livro e citado o quão difícil é atingir este estado de plenitude, dando a entender que se você está bem, miasmas não se acoplarão, mas se você fraquejar, ai você está fodido, mas tudo bem, somos seres em evolução.
A imputação de incapacidade espiritual e impotência da nossa Vontade se baseia no mesmo princípio de que estamos aqui para evoluir espiritualmente. Onde, em partes, nos coloca como incapazes de exercer força mágica sobre energias indesejadas, havendo a dependência do conhecimento de seres mais evoluídos, o que não é de todo errado. Então ao mesmo tempo que diz que não é possível que um mundano bata de frente com um mago negro, só de não sermos tão poderosos, já não precisamos nos preocupar com eles, pois os enviados do deus cristão darão conta do recado.
A questão de haver práticas mais evoluídas e outras menos evoluídas, citando religiões africanas e suas derivações, assim como práticas indígenas e o uso de instrumentos mágicos só ressalta o racismo e o preconceito mesmo. Uma pesquisa breve sobre o surgimento da doutrina Espírita já explica tudo isso.
Para fechar, busquei este livro afim de ampliar meus conhecimentos e atuar em algumas questões pessoais que vem ocorrendo. Encontrei algumas informações interessantes que ampliaram algumas páginas em meu grimório, mas a maioria caiu nos conhecimentos teóricos que já possuo, portanto, para magistas e bruxos mais experientes, pode ser considerado um livro de complementos pontuais, mas para aqueles que se identificam com a doutrina cristã e desejam se aproximar do espiritismo, é um prato saboroso.
Confesso que foi muito difícil ler sobre a criação dos Magos e emparelhar perfeitamente seu propósito com a obra de Tolkien, foi difícil manter a seriedade da leitura depois disso e, provavelmente, vou usar de piada em momentos oportunos.
Dragões. Digo que fiquei feliz em ver eles sendo citados como seres extremamente poderosos, quem estuda e pratica magia draconiana sabe melhor do que eu do poder que dragões possuem. São seres louváveis e que devem ser muito respeitados, vê-los como uma legião que coordena ações maléficas não foi confortável pra mim.
A leitura, como sempre, fica a critério de cada um. Depende muito da visão de cada um. Tenho certeza que o pessoal da Goétia pode se ofender em algumas passagens e capítulos específicos. rs.
Uma nota honrosa: no início o livro cita Eliphas Levi a Papus de forma bem positiva, provavelmente por terem bases cristãs em seu ocultismo.
Mas no fim, é isso. Uma resenha bem pessoal de um livro que me despertara curiosidade anteriormente e agora está em minhas mão temporariamente.
Obrigada por ler até aqui!
Kissu kissu (@^◡^)